Montagem teatral do grupo LPC Transformação aponta contradições entre o humano e o divino e une a narrativa clássica a conceitos de vanguarda, incluindo a técnica de malabares.
Repressão familiar, religião, sexualidade, traições e a compaixão da protagonista em estado terminal, pela sua vida. Um melodrama que acentua a contradição entre o humano e o divino está na índole da personagem principal da peça Cerimônia do Adeus, dirigida por Túlio Quevedo, que estréia dia 5 de junho, no teatro Bruno Kiefer, 6°andar da Casa de Cultura Mário Quintana. A montagem do grupo Laboratório de Pesquisa Cênica – Transformação (LPC Transformação) terá apresentações também nos dias 06, 07. 12, 13 e 14 de junho.
O espetáculo foca seu enredo em um rito de passagem, baseada no período da Idade Média e ambientado em uma capela estilizada. A protagonista constrói em seu imaginário uma forma de resolver seus conflitos emocionais, dramatizando um diálogo com as personagens que marcaram sua trajetória em vida e que tanta alegria e tristeza lhe deram. A contradição entre o humano e o
divino contida na índole da personagem não abstrai sua natureza mundana – sustentadas pela ironia, o ceticismo e até seu cinismo para abordar as emoções humanas.
Para narrar o texto, o diretor une a narrativa à técnica de malabares, possibilitando uma encenação que, embora minimalista, é não linear e rica em sentimentos. As cenas são costuradas pela trilha sonora, executada ao vivo por dois anjos que decoram a capela onde se desenrola o drama.
Cerimônia do Adeus é o último texto escrito pelo dramaturgo gaúcho Hércules Grecco (1940-2007). Ele faleceu dois meses após a conclusão da obra e o início da preparação para sua montagem. “Desde então, estamos trabalhando para montar este espetáculo”, diz o diretor Túlio Quevedo. Grecco, que também foi letrista de músicas e vencedor de vários festivais gaúchos, é autor de Jacobina, Uma Balada Para o Cristo Mulher, Os Crimes da Rua do Arvoredo e Maria Degolada, todas premiadas adaptadas para o teatro pelo diretor Camilo de Lélis.
Cerimônia do Adeus sustenta-se em princípios fundamentais do teatro clássico e em elementos da vanguarda: quem somos? de onde viemos? para onde vamos?. “De Sófocles a Brecht, de Shakespeare a Nelson Rodrigues, todos se aproximam em forma e conteúdo a estas eternas e permanentes questões humanas”, explica o diretor. “É dentro deste conceito que nosso grupo vêm trabalhando há 15 anos, bebendo nas fontes e realizando um ‘mix’ de teatro clássico, Comédia Dell Arte, Living Theatre, Teatro Oficina, Teatro do Oprimido, Oi Nóis Aqui Traveiz, Teatro da Crueldade e outros”.
Nesta trajetória, o grupo LPC Transformação lançou mão de todos os recursos e linguagens e gêneros teatrais: as lições de Stanislavski; a radicalidade carnal de Artaud; a tradição de Grotowski; o anarquismo de Julian Beck; o anarcotropicalismo de Zé Celso; as buscas de Antunes Filho; as soluções de Augusto Boal... “Nosso teatro é comprometido com a arte, sem submissão às questões do mercado, acreditamos na transformação da sociedade e do indivíduo a partir das ferramentas do teatro e do atuador”, explica Túlio.
sábado, 19 de maio de 2012
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